[Biografia] - Truman Capote

Escritor de luxo: Truman Capote


“O que faço quando me sinto triste? Leio”.
– Truman Capote  

(A arte de entrevistar – Barbara Walters, página 37)

Foto de Arnold Newman.
Jornalismo e literatura

Quatro membros de uma família são assassinados na zona rural de uma cidadezinha dos Estados Unidos. O pai, um estimado fazendeiro, teve a garganta cortada, amarrado junto à esposa e aos dois filhos adolescentes, que foram mortos com tiros de espingarda.

Essa é uma história real e foi transformada no livro “A sangue frio” (In cold blood) pelas mãos de Truman Capote. Com essa publicação, em 1966, o autor inaugurava um novo gênero jornalístico, o romance não-ficcional, marcando seu nome na história da profissão.

Seis anos de minuciosa pesquisa e intensas entrevistas, inclusive com os assassinos, foram necessários para garantir o sucesso da obra que, narrada em forma de romance, é envolvente e incrivelmente detalhada.

Havia para Capote a necessidade de elevar a reportagem à categoria de arte, estando aí sua iniciativa de unir jornalismo e literatura, dando força ao Novo Jornalismo. “Eu costumo pensar que arte é uma forma de religião e uma forma de chegar a Deus. Ocasional e muito raramente, em momentos inesperados, uma pessoa dedicada à arte pode se sentir em estado de graça”, afirmou em uma das entrevistas concedidas à jornalista Barbara Walters.

O artista

“Tenho absoluta confiança em mim mesmo como escritor. Talvez nem sempre como pessoa, mas considero-me um escritor avant-garde” (1981, revista Club)

Foto tirada por Richard Avedon, fotógrafo amigo do autor, em 1955.
No dia 30 de setembro de 1924 nascia, em Nova Orleans, Luisiana, Truman Streckfus Persons. A mãe era alcoólatra e o pai, viciado em sexo, possuía inúmeras amantes. Os dois viviam em um hotel e enviaram o pequeno filho para viver com tias no Alabama, onde ficou até os nove anos de idade.

O relacionamento insustentável terminou e, após a separação, Truman acabou ganhando um querido padrasto, Joseph García Capote, de quem se apropriou do sobrenome. O garoto, então, foi viver com o casal em Nova Iorque. O sentimento de abandono e as mágoas da infância, no entanto, nunca foram superados. Sentia-se "um órfão espiritual, como uma tartaruga virada de cabeça para baixo".

Joe Capote pretendia oferecer a Truman educação de qualidade, matriculando-o nas melhores escolas. Catherine Woods, professora de inglês, foi a primeira pessoa a reconhecer seu talento com as palavras, incentivando-o a escrever contos e poemas. Mas nem todos pensavam assim... Acusado por alguns professores de ser mentalmente atrasado, foi levado ao psiquiatra. O diagnóstico? "Naturalmente, fui classificado como um gênio".  Capote não terminou o ensino médio e nunca buscou qualquer outro meio de educação formal. Para ele, a pessoa nasce escritor ou não - e professor algum pode influenciar o resultado.

Aos 17 anos, conseguiu um emprego no The New Yorker e sua função era encontrar imagens e reunir recortes de jornais. Dois anos depois, começou a publicar pequenas histórias em revistas não muito conhecidas. Sua primeira publicação foi um conto intitulado “Miriam”. O primeiro livro, “Other voices, other rooms”, de 1948, apresenta traços autobiográficos e teve uma boa recepção do público. Nesse mesmo ano, Capote conheceu o escritor Jack Dunphy, com quem manteve uma relação que durou 35 anos.

Clique para ler a resenha.
Em 1958, “Bonequinha de luxo” (Breakfast at Tiffany’s) lhe deu ainda mais visibilidade e a adaptação cinematográfica, com Audrey Hepburn como Holly, tornou-se um clássico. O autor, no entanto, não gostou do filme. Queria sua amiga Marilyn Monroe no papel principal.

O sucesso seguinte foi o já mencionado brilhante livro “A sangue frio”. Fama, reconhecimento e dinheiro foram alcançados, Capote, que possuía um caso de amor com as câmeras, atingiu seus objetivos. Ele adorava aparecer, ter seu rosto estampado em capas de revistas e jornais. A vida, para ele, era uma grande festa – com muitos entorpecentes.

Capote foi confidente de membros da alta sociedade estadunidense e, por isso, conhecia inúmeros segredos deles. Decidiu publicá-los e, desde então, tornou-se cada vez mais sozinho. O “beautiful people”, como era chamado o grupo a que durante anos pertenceu, não gostou de ser exposto e o deixou de lado.

O excesso de bebidas e drogas culminou com sua morte, em Los Angeles, a um mês de seu 60º aniversário. Eternizado em sua obra, o excêntrico artista – como gostaria de ser lembrado – revive a cada vez que alguém tem contato com um de seus personagens, reais ou fictícios. Seu trabalho de vanguarda continua a inspirar escritores e jornalistas.

Capote, por Andy Warhol.


Vale a pena ler também:
Obituário de Truman Capote, publicado no The York Times.

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